Marie Curie

— Maria Eduarda Brandão


Marie Curie deixou como legado às futuras gerações a sua obstinada determinação, incondicional devoção ao trabalho, tenacidade, inteligência e postura otimista, resultado de sua crença no positivismo científico. Representou, ainda, a luta das mulheres na virada do século 19 para o 20 pela conquista de seu lugar no mundo das Ciências. Desafiou costumes e deixou grande legado para as futuras gerações.

Marie Skłodowska-Curie nasceu em 7 de novembro de 1867 em Varsóvia na Polônia e faleceu em 4 de julho de 1934 em Sancellemoz. Foi uma física e química pioneira em pesquisas sobre radioatividade, descobriu o Rádio e Polônio e ganhou diversos prêmios como: o Prêmio Nobel de Física, Prêmio Nobel de Química, Medalha John Scott, Medalha Matteucci, entre outros.

Os pais de Marie eram professores e muito convictos na importância da educação, principalmente no período ao qual viviam: seu pai foi demitido do cargo de diretor de escola, por suas convicções políticas e seu amor à Polônia, e sua mãe faleceu devido uma tuberculose quando Marie tinha apenas 11 anos de idade. Marie se manteve focada nos estudos e recebeu educação em diferentes línguas, Ciências e Matemática, assim como, no ensino de Literatura, História e da Língua Polonesa, proibida como língua oficial, para o ensino, pelo governo russo. Marie se destacava como a melhor aluna da turma e formou-se aos 16 anos, em primeiro lugar em todas as matérias no que hoje é denominado Ensino Médio. Marie trabalhou quase sete anos como tutora em casas de famílias ricas para auxiliar financeiramente sua irmã a graduar-se em Medicina, ao mesmo tempo que não tinha nenhuma perspectiva em cursar um ensino universitário na Polônia, a qual era uma sociedade machista e não admitia mulheres.

Marie não desistiu de seus sonhos e em 1891, teve condições de partir para Paris e matricular-se na Universidade de Sorbonne a fim de estudar Física e Matemática. Graduou-se em Ciências Físicas em primeiro lugar e, logo após, em Ciências Matemáticas em segundo lugar. Vale ressaltar que no ano de sua formatura, só 210 mulheres estudavam na Sorbonne comparado a cerca de 9.000 homens, enquanto apenas duas mulheres graduaram-se em Ciências Físicas e cinco em Ciências Matemáticas. Foi nessa época que conheceu Pierre Curie, também cientista e professor, que viria a ser seu marido, num casamento civil em 1895, na cidade de Sceaux, no jardim da casa dos pais de Pierre Curie, contava com a presença de familiares e poucos amigos da universidade. Foi planejado em todos os seus detalhes por Marie para ser um grande dia, porém diferente de todos os outros casamentos: sem vestido branco, sem anel de ouro, sem cerimônia religiosa. 

Nos anos seguintes, Marie se dedicou ao estudo dos raios emitidos pelos sais de urânio e tório, estudo que se tornou o objetivo de sua tese de doutorado; em 1898, publicou o artigo “Raios emitidos pelo Uranium and Thorium” no qual relata a detecção das radiações emitidas a partir da pechblenda (variedade de uraninita), pela sua propriedade de ionizar o ar utilizando o piezo eletrômetro projetado por Pierre. O que revolucionou sua vida, pois observou que a intensidade das radiações eram superiores ao que se esperava e a explicação para essa peculiaridade era necessário haver outro elemento radioativo na pechlenda, ou seja, Marie Curie descobria dois novos elementos químicos: Polônio (nome dado em homenagem à sua Pátria) e o Rádio. 

Essa descoberta aliada a descoberta da radioatividade rendeu aos Curie e ao orientador de Marie, Henri Becquerel, o Prêmio Nobel de Física em 1903. Um marco na historia pois foi a primeira vez que uma mulher foi agraciada com o referido prêmio, que teve a sua primeira edição em 1901. Sua tese foi reproduzida inúmeras vezes em francês e em inglês pela própria Marie Curie, e em poucos anos, Marie publicou 19 artigos relacionados à sua tese, sendo 10 em coautoria com seu marido. 

Em 1906, Pierre veio a falecer decorrente de ferimentos na cabeça causados por seu atropelamento ao atravessar a rua, deixou sua esposa e duas filhas para trás.

Marie, vítima do machismo, foi envolvida num grande escândalo em 1911 que a obrigou a abandonar Paris, quando veio a público seu romance com Paul Langevin, ex-aluno de Pierre, casado e pai de quatro crianças pequenas. No mesmo ano, Marie provou que a sociedade não ia derrubá-la pois recebeu seu segundo Prêmio Nobel, desta vez, em Química , pelas pesquisas sobre as propriedades químicas do Polônio e do Rádio. 

Teve um papel fundamental durante a Primeira Guerra Mundial, pois atuou no atendimento aos soldados feridos, realizando radiografias com equipamentos montados em veículos, ambulâncias radiológicas e, embora não fosse médica, treinou inúmeros técnicos e enfermeiros, capacitando-os a trabalhar com os equipamentos de Raios-X. Publicou diferentes tratados na área de Radiologia, conquistando definitivamente os franceses e o mundo com a aplicação dos Raios-X para diagnósticos médicos.

Nos anos pós guerras, Marie entrou numa “turnê” ao redor do mundo, visitando os Estados Unidos para pesquisas em rádio; em 1922, tornou-se membro da Academia Francesa de Medicina. Ela também viajou para outros países, aparecendo publicamente e dando palestras na Bélgica, Brasil, Espanha e Tchecoslováquia. Em agosto de 1922, Marie Curie tornou-se membro do Comitê Internacional de Cooperação Intelectual da Liga das Nações onde permaneceu até 1934 e contribuiu para a coordenação científica da Liga das Nações com outros pesquisadores de destaque, como Henri Bergson, Albert Einstein, Hendrik Lorentz. Em 1923, ela escreveu uma biografia de seu falecido marido, intitulada Pierre Curie. Em 1930, foi eleita para o Comitê Internacional de Pesos Atômicos, no qual serviu até sua morte. Em 1931, Curie recebeu o Prêmio Cameron de Terapêutica da Universidade de Edimburgo. 

Relatos dizem que ela não demostrava temor pela morte, embora tivesse consciência de que ela estava próxima e que refletia a respeito da causa de sua doença, questionando-se qual de seus trabalhos teria tido papel de mais influência. Marie Curie morreu em 1934, aos 66 anos, em um sanatório em Sancellemoz (Alta Saboia), na França, devido a anemia aplástica, causada por exposição à radiação durante suas pesquisas científicas e seu trabalho radiológico em hospitais de campanha durante a Primeira Guerra Mundial.

Marie deixou um legado e uma vida extraordinária para trás, e extraordinário é a melhor palavra para descrever essa grande mulher que enfrentou tantos preconceitos, enquanto conciliava família, maternidade, trabalho, pesquisas científicas e que mostrou ao mundo que a força que uma mulher tem é a arma mais poderosa. 

REFERÊNCIAS

CAVALIERE, I. Marie Curie: pioneira da Ciência. Invivo: Fundação Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, 04/05/2011. Disponível em: <http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1158&sid=7>. Acesso em: 07/04/2021

MARTINS, R. A. As Primeiras Investigações de Marie Curie sobre elementos radioativos. Blog Gleb Wataghin. Campinas, São Paulo. Disponível em: <http://www.ghtc.usp.br/server/PDF/RAM-Curie.PDF>. Acesso: 07/04/2021

SIMAL, Carlos J. R.; PARISOTTO, V. S. Um pouco da vida e da obra da Madame Curie e os 85 anos da sua visita a Belo Horizonte. Rev Med Minas Gerais, 2011; 21(3): 361-368. Disponível em: <http://www.rmmg.org/exportar-pdf/183/v21n3a17.pdf>. Acesso em: 07/04/2021


Escrito por

Maria Eduarda Brandão