Carla Negri Lintzmayer
Oi pessoal! Meu nome é Carla Negri Lintzmayer e atualmente sou professora adjunta na UFABC, o que significa que realizo atividades de ensino, pesquisa, extensão e administrativas (como, por exemplo, ser a coordenadora da pós-graduação em Ciência da Computação).
Mas voltando um pouco no tempo, eu nasci em Maringá, noroeste do Paraná, em 1990 e lá vivi por quase 22 anos. Cresci ouvindo meu pai dizer que eu precisava estudar muito para ser doutora (médica) e poder ter um emprego melhor que o dele (mecânico), e apesar dos meus pais terem apenas ensino fundamental e médio, eles sempre me imaginaram indo além. Talvez por isso eles se esforçaram para me dar o privilégio de poder me dedicar integralmente aos estudos. Me lembro que sempre gostei muito de matemática, mas conseguia ir bem nas outras disciplinas também. Por muitos anos, portanto, não precisei me preocupar com trabalho e carreira. “O que você vai ser quando crescer? Não faço ideia!! 😱”. Então, no início da minha adolescência, comecei a ter acesso a computadores, a fazer cursos de informática, e a ouvir um pouco mais sobre carreiras em programação e sobre como os computadores eram “o futuro”. Mas eu não sabia o que era nada disso! E meio que no susto, me vi prestando vestibular para cursar Ciência da Computação na Universidade Estadual de Maringá (UEM), passando e ingressando em 2008. Por um tempo, tive um pouco de medo se eu estava no caminho certo 🤷♀️. Felizmente, todo mundo era muito bacana e estávamos no mesmo barco: um bando de “bixo” que achou que iria sair desenvolvendo softwares maravilhosos logo no início. Porém, no primeiro ano temos basicamente várias disciplinas da matemática (mas é uma matemática diferente do que vemos no ensino médio!), e eu gostei muito dessa parte, porque eu já tinha um leve crush em fazer contas. Mas foi só no terceiro ano que eu realmente me apaixonei pela computação, quando tive uma disciplina chamada “Análise de algoritmos e teoria dos grafos” 😍. E ali eu entendi o que eu queria fazer, e era estudar mais sobre aquilo! Então no início de 2012 me mudei para Campinas, São Paulo, para fazer mestrado em Ciência da Computação no Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), porém no segundo ano meu orientador propôs que eu migrasse para o doutorado, devido ao meu bom desempenho. Ganhei o título de doutora (não a que meu pai sonhou, mas ele ficou feliz mesmo assim 🙃) em dezembro de 2016, e em janeiro de 2017 iniciei o pós-doutorado também na Unicamp. Nesse ponto eu já havia ido longe demais, e a minha única salvação era conseguir algum emprego como professora universitária mesmo 😅. Então, em novembro de 2017 prestei concurso público para a UFABC, passei e tomei posse em janeiro de 2018 como professora adjunta. E cá estou, lecionando regularmente minha disciplina favorita (não sei se ficou claro, mas é análise de algoritmos), fazendo pesquisa relacionada justamente com essa disciplina, orientando alunos dedicados e interessados em pesquisa, e com vários colegas maravilhosos.
Eu acredito que muitas garotas não seguem na área da computação por terem algum receio de que a maioria dos que estão aqui são homens. De certa forma, isso não é mentira. A turma em que comecei a graduação na UEM tinha 3 garotas e 37 garotos. Quando comecei o mestrado/doutorado na Unicamp, não tinha outra garota trabalhando na mesma área. Quando ingressei na UFABC, foram contratados também outros 11 professores homens. Quando ministro disciplinas no bacharelado em Computação na UFABC, nunca há mais do que meia dúzia de garotas. E além de tudo isso, um sentimento que sempre me acompanhou, e que eu não sei bem de onde surgiu e nem costumo espalhar por aí, é o de “você é mulher, e as pessoas não vão te ouvir a menos que você seja muito boa no que faz”. E eu acho que ninguém deveria se sentir assim. Nós deveríamos ser capazes de fazer o que gostamos, sem nos cobrar tanto. E sem sermos tão cobradas.
Mas calma, nem tudo são pedras 😉. Uma daquelas garotas que fez graduação comigo é uma das minhas melhores amigas até hoje! E eu conheço muitas professoras, tanto na UFABC quanto em outras universidades, e que trabalham na minha área de pesquisa! Minha maior colaboradora de pesquisa hoje, Cristina Fernandes, é uma professora que me inspirou demais, e ainda inspira! (Procurem aí também sobre a Yoshiko Wakabayashi!) Enfim, acho que o que eu quero dizer é que tem gente demais por aí! Pode parecer que não, mas vai ter alguém para te ajudar e te apoiar ou te inspirar, nem que seja à distância, nem que seja alguém que você ainda nem conheceu. Acho que é isso, obrigada por ter lido até aqui 🤗
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— Publicado em 14/06/2021