Giovana Marchini


Oiee!! Meu nome é Giovana, tenho 24 anos e sou aluna de graduação em Biologia e pós graduação na UFABC. Mas antes de contar pra vocês sobre o que eu tenho feito na faculdade, quero falar um pouquinho da minha trajetória até aqui…

Eu sempre fui uma menina mais tímida e reservada na época do colégio. Eu não era aquele tipo de pessoa que se voluntaria pra fazer o exercício na lousa ou que é representante de sala, apesar de ter estudado em colégios pequenos e ter amigos muito legais. Eu gostava de quase todas as matérias, mas preferia estudar matérias de ciências, porque eu entendia melhor do que matemática e história. No meu ensino médio, eu estudava bastante e era preocupada com o vestibular. Eu tinha muito medo de falhar, e me protegia disso estudando mais do que todo mundo. Depois de todas as provas que fazia, tinha certeza que tinha ido mal mas quando a professora entregava as provas e eu via um 9,5 pensava: ufa, que sorte. Eu não acreditava que era capaz, mesmo as vezes tendo certeza que eu era a pessoa que mais sabia aquele conteúdo na prova. E isso foi se propagando pra todas as áreas da minha vida, inclusive quando entrei na faculdade. 

Hoje, alguns anos depois, eu entendo o que aconteceu. Nós mulheres somos criadas para sermos mais calmas, quietinhas e comportadas. Com certeza você já ouviu aquele famoso “fecha as pernas, menina!”, e aí quando a gente cresce e tem vontade de ser líder de uma grande empresa, de dirigir um carro superpotente, de gostar de ciência, tecnologia, computação ou qualquer coisa que a sociedade julga ser mais “masculina”, a gente trava. Só agora, depois de ter entendido isso, que comecei a contornar essa falta de confiança que o machismo implementou em mim. As situações de poder são especialmente desafiadoras pra nós mulheres porque o modelo de liderança e de poder está tradicionalmente associado aos homens. Agressivo, convincente, firme… E eu por exemplo não confiava em mim porque achava que uma líder não podia ser delicada nem falar baixo como eu, porque achava que liderar era incorporar uma personagem enérgica, mesmo não sendo meu estilo. Hoje eu entendo que eu posso sim ser uma líder com a minha própria personalidade e do jeito que eu sou, com as minhas qualidades de organização, foco e disciplina. E foi minha mãe quem me ajudou a abrir os olhos pra isso, ela foi meu maior exemplo feminino de força, liderança e vaidade (Pra você ver que mesmo tendo pessoas assim próximas a nós, a sociedade consegue desfazer essa ideia).

Eu entrei na faculdade em 2016 e logo comecei a frequentar um laboratório de pesquisa em neurociência. Fiz 2 iniciações científicas nesse laboratório e consegui uma bolsa que era o meu sonho : uma bolsa para fazer pesquisa no exterior com tudo pago. Até hoje eu me arrepio só de lembrar. Eu passei 4 meses trabalhando em um laboratório de pesquisa dentro de um hospital nos Estados Unidos, liderando um projeto com coisas que eram totalmente novas pra mim, incluindo tecnologia. Depois que eu voltei, eu prestei vários processos seletivos para estágios mas não passei em nenhum. Decidi dar monitoria de Biologia para alunos do ensino médio e ingressei na Licenciatura em Biologia (já estava fazendo o Bacharelado). Depois de um ano, percebi que não era exatamente aquilo que eu queria continuar fazendo. Larguei a licenciatura e ingressei no mestrado, que era algo que eu sempre tive vontade de fazer e acredito que vai me trazer uma experiência que me colocará nas empresas que eu quero trabalhar.

Estou no mestrado em Biotecnociência há 4 meses e é uma área totalmente diferente da que eu trabalhava naquele outro laboratório, o que tem sido desafiador pra mim. Mas eu já aprendi muitas coisas novas e estou amando me permitir conhecer áreas novas que antes eu nem imaginava conhecer. Meu laboratório é majoritariamente feminino e eu me inspiro nas mulheres que fazem parte dele. Então, se eu tivesse que te dar um conselho, eu diria pra você não deixar que as pressões sociais ditem as prioridades da sua vida. Você pode ser aquilo que quiser, da forma que você é. Homem nenhum tem a capacidade questionada quando cresce profissionalmente, e nós mulheres também não devíamos ser questionadas por isso. Que vocês sejam muito felizes na carreira que quiserem seguir! Um beijo, Gi.

— Publicado em 13/10/2021